sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

Wenceslau de Moraes - o enlevo das coisas e sofrimento

       Todavia, eu nunca experimentei a sensação plena do gozo, o prazer que domina tudo, triunfante. Eu nunca, no Japão como em parte alguma, me senti plenamente feliz, sem dúvida por incompetências e incongruências dos meus dotes afectivos. O enlevo das coisas acorda sempre no íntimo do meu ser um sofri-/mento ignoto, a impressão de dor – sofrida, talvez numa outra vida já vivida; por sofrer, talvez em futuros dias da minha vida actual, talvez numa outra vida que há-de vir; ou terei eu o estranho dom de sofrer, por indução, a dor dos males que ferem outros seres?... 
       (Páginas 7-8, de Meditações, Wenceslau de Moraes, edição Alma Azul, Coimbra I Alcains, 2009, colecção Literatura Portátil, n.º 43. Só o texto, pp. 7-37.)

1 comentário:

  1. O autor em que li com toda a nitidez a realidade da dor como conhecimento foi Raul Brandão. Reencontrei um livrinho, libreto, descoberto, adormecido numa prateleira. À espera...
    Páthei mathos (O sofrimento ensina), dizia, em grego, o Padre Manuel Antunes nas suas aulas de Cultura Clássica, aulas que por si só (quase) valiam um curso inteiro.
    «Foi ele que guiou os mortais
    no caminho da reflexão, dando-lhes por norma
    que se aprende sofrendo.»
    O Hino a Zeus ocupa os versos 160-191, de Agamémnon, tradução de Maria Helena da Rocha Pereira na HÉLADE, Antologia da Cultura Grega, 5.ª edição, p. 194.

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