sábado, 18 de abril de 2020

A coisa que se esqueceu da sua sombra

«Passaram pelo sítio da Esfinge, mas, tal como Tirésias lhe dissera, Mopsos viu apenas o rochedo. Era tão negro e sem vegetação que mais parecia a sombra de uma coisa que, ao ausentar-se, se esquecera de a levar.»

O que se exige de um bom rei

Os deuses, o adivinho Tirésias..., o neto do rei
Penteu...
«Chamava-se Penteu. Era um rapaz de caracóis castanhos. Desde muito menino, desde quando ainda vivia junto das mulheres, que ele se mostrava sempre muito sério, muito dado a questões e raciocínios. Talvez viesse a governar com competência, porém não tinha nada de simpático. Ora a competência não era indispensável. O Estado a bem dizer, geria-se sozinho. De um bom rei exigia-se outras coisas: que nas cerimónias não se atrapalhasse e que tivesse ataques de riso e cólera, daqueles muito vistosos, que davam que falar. Os Gregos não gostavam de sisudos.»
(Hélia Correia | Henrique Cayatte, O Ouro de Delfos, Relógio de Água Editores, Lisboa, 2004, na colecção MOPSOS, O PEQUENO GREGO)