sábado, 28 de janeiro de 2017

Persistir no seu ser ou o desejo de eternidade 2

Espinosa

PROPOSIÇÃO VI
Toda a coisa se esforça, enquanto está em si, por perseverar no seu ser.
[P. 99]
[Acções, Paixões, Alma, Corpo, são explicados por Espinosa, segundo os seus princípios, more geometrico («à maneira dos geómetras»). No final da DEMONSTRAÇÃO, a abreviatura Q. e. d., Quod erat demonstrandum (O que era para demonstrar)]

DEMONSTRAÇÃO
As coisas singulares, com efeito, são modos pelos quais os atributos de Deus se exprimem de uma maneira certa e determinada (pelo corolário da proposição 25 da Parte I), isto é (pela proposição 34 da Parte I), coi- // sas que exprimem de uma maneira certa e determinada a potência de Deus em virtude da qual ele existe e age; e nenhuma coisa tem em si nada por que possa ser destruída, isto é, que suprima a sua existência (pela proposição 4 desta parte); mas, ao contrário, ela opõe-se (pela proposição precedente) a tudo o que poderia suprimir a sua existência. E, por consequência, esforça-se por perseverar no seu ser tanto quanto pode e isso está em seu poder. Q. e. d..
[P. 99-100]

Nota: O texto de Espinosa foi extraído da ÉTICA, Livro II, tradução do latim de Joaquim Ferreira Gomes, Atlântida, Coimbra, MCMLXII.

Persistir no seu ser ou o desejo de eternidade

Boécio
14 - Existe então - perguntou - algo que, agindo de acordo com a sua natureza, abandone o desejo de sobrevivência e se oriente para a morte, desejando a corrupção? [P. 113]
16 Na verdade, todo o ser animado procura assegurar a sua vida e foge à morte e a destruição. [P. 114]
[As plantas, as pedras]

33 De tal modo este amor de si não resulta de um movimento do espírito racional, mas de uma inclinação natural; com // efeito, a Providência concedeu às coisas criadas por si esta motivação básica para a sobrevivência, que é desejarem de forma natural permanecer, na medida em que lhes for possível. 34 Não há razão nenhuma que te permita duvidar, seja de que modo for, de que tudo o que existe procura naturalmente permanecer de forma constante, fugindo ao aniquilamento. [P. 115-116]

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Nobreza

O prestígio da nobreza
«Este, se tem alguma coisa a ver com a glória, é com uma glória alheia: a nobreza, com efeito, é uma glória que vem dos méritos dos antepassados. 8 Ora, se é o  reconhecimento do mérito que faz o renome, é necessário que sejam pessoas notáveis aqueles de quem se fala, porque o brilho da glória alheia, se não tens a tua própria, não te tornará ilustre. Ora, se há na nobreza algo de bom, estou em crer que é apenas o facto de ser imposta aos nobres a obrigação de estarem à altura da virtude dos seus antepassados.»
[ Boécio, Consolação da Filosofia, Prosa 6, pontos 7 e 8, pág. 93, Gulbenkian, 2.ª edição, Lisboa, 2016.